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| José Malhoa, Rainha D. Leonor de Lencastre (1926) [Caldas da Rainha, Museu José Malhoa] |
Os 500 anos da rainha das caldas e das misericórdias
Num dia como o de hoje de há precisamente quinhentos anos, a Rainha Dona Leonor de Lencastre exalava o último suspiro. Aquela a quem as didascálias da Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente referiam como a Rainha Velha e que a minha geração se habituou a identificar como Dona Leonor de Lencastre, passou a ser apelidada de Avis, de Viseu ou de Portugal. A Rainha Perfeitíssima foi espoliada no universo mediático do nome da Rainha da Boa Memória.
Nas Caldas da Rainha tudo evoca/evocava a sua insigne padroeira, a consorte de Dom João II, duas vezes herdeira da coroa portuguesa, a bisneta mais ilustre de Dona Filipa de Lencastre, a matriarca da Ínclita Geração. O Hospital Termal por si fundado em 1485 continua a lembrá-la em cada recanto que o nosso olhar alcance e os guias turísticos nos conduzam. O mesmo se não poderá dizer do parque fronteiro ao complexo termal, agora rebatizado de Dom Carlos I.
No centro desse espaço ajardinado ao gosto romântico, fica o Museu Malhoa, que possui no seu espólio um retrato póstumo da Rainha Dona Leonor (1926), uma tela a óleo pintada pelo grande mestre caldense e doado à instituição aquando da sua criação em 1933. Ali se mantém imponente até hoje, numa sala condigna da sua grandeza régia, depois de ter esperado provisoriamente na Casa dos Barcos pela inauguração oficial do edifício definitivo no ano seguinte.
O olhar idealizado rainha perfeitíssima olhado à distância por José Malhoa representa-a na flor da idade, pouco depois de ter subido ao trono. A paleta do pintor naturalista não a tingiu com as cores sombrias dum amanhã ainda distante, a mãe enlutada pela perda do filho adolescente e a viúva amargurada sem vontade de sorrir para quem se deixasse olhar. Imagem ainda inacabada duma princesa real com tanta vida ainda para viver e tantas histórias por contar.
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| Armas da Rainha D. Leonor de Lencastre Jean du Cros, Livro da Perfeição das Armas (1509) [Lisboa, BNP] |


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