![]() |
Pés Pegadas Círculos |
Nasci descalço como toda a gente e até poderei morrer calçado como ocorre com alguns. Mas, fora essas situações extremas de alfa & ómega, nunca necessitei de manter os pés ao léu pela vida fora. Em grande parte, devo-o aos meus avós maternos, os únicos que conheci. Durante toda a infância e parte pré-adolescente, a minha avó ajuntadeira e o meu avô sapateiro confecionaram-me sandálias no verão e botas no inverno.
Há quem tenha saudades viscerais dos tempos em que os pés descalços usados a contragosto imperava. Com os meus pés calçados a preceito em qualquer estação do ano, lembro-me muito bem dos meus colegas do primário com os pés pelados, calejados de pisar o chão de todos os dias, se sentavam, por desígnio inviolável de casta, na chamada fila dos burros, aquela que ficava situada na parte mais escura da sala.
À distância de muitos verões e invernos, sinto o prazer de andar por casa casa de pés ao ar, liberto dum qualquer tipo de prisão forçada. A passagem dos dias quentes para os frios faz-se mais no meu imaginário pessoal quando sou forçado a resguardar os pés do contacto do solo do que aquando da mudança de hora. Atiro-me às havaianas de enfiar nos dedos acompanhadas dumas peúgas de algodão ou de lã protetoras.
Sente-se o frio conforme a roupa, sobretudo quando se tem o livre-arbítrio de o fazer. De substituir a seu belo prazer uma t-shirt por uma camisa com mangas e umas bermudas por umas calças de pernas compridas, de escolher uns sapatos adequados a cada uma das épocas do ano. Fazer um pouco mais do que os meninos da minha escola podiam fazer quando as condições e fenómenos atmosféricos assim o exigisse.


Sem comentários:
Enviar um comentário