J u k e b o x |
Primeiro ato: televisão
Patxi Andión atuou pela primeira vez em Portugal há precisamente 50 anos e eu vi-o na televisão. Cantou uma ou duas canções no programa Zip-Zip, gravado no dia 31 de maio de 1969 no Teatro Villaret de Lisboa e trasmitido pela RTP a 2 de junho seguinte. Julgo que terá interpretado uma Carmela disfarçada de Manuela, que a censura então vigente não permitia grandes referências a um canto republicano do tempo da Guerra Civil de Espanha. Fiquei impressionado com a singularidade da voz que a entoava e com a forma como lhe dava vida através das palavras feitas música.
Patxi Andión continuou a passar a sua mensagem em disco nos dois lados da fronteira. Os antigos pik-up familiares e leitores de cassete eram reis. No verão de 1974, ainda o caudillo estrebuchava, o som da sua voz veio-me um sem número de vezes duma caixa de música em Badajoz. Tantas quantas as pesetas disponíveis engolidas pela jukebox dum bar das imediações da Plaza del Pilar. Esqueci-me do nome do bar e do nome da rua. Pouco importa. Ficaram-me na memória as palavras desse Desde que te quiero. Magia do momento, da companhia, da melodia, do poema, do sentido dos sentidos...
Segundo ato: concerto
Patxi Andión voltou à capital portuguesa cinco anos depois, a 24 de março de 1974. Escolheu o Coliseu dos Recreios e eu estava lá mais cinco mil como eu a ocupar a plateia, bancadas e camarotes. Os agentes da PIDE/DGS pululavam no interior e exterior do teatro-circo. A intentona das Caldas da Rainha tinha ocorrido oito dias antes e a revolução dos cravos estalaria daí a precisamente um mês. De todas as canções que então interpretou, lembro-me muito bem do efeito incendiário que as palavras do El Maestro causaram em toda a assistência sentada e apeada. A liberdade já rondava por ali.
Terceiro ato: jukebox