M O M O "The Fool" [from an 18th century minchiate playing card deck]. |
Γένος ΝύκταςΝὺξ δ᾽ ἔτεκεν στυγερόν τε Μόρον καὶ Κῆρα μέλαιναν καὶ Θάνατον, τέκε δ᾽ Ὕπνον, ἔτικτε δὲ φῦλον Ὀνείρων· - οὔ τινι κοιμηθεῖσα θεὰ τέκε Νὺξ ἐρεβεννή, - δεύτερον αὖ Μῶμον καὶ Ὀιζὺν ἀλγινόεσσαν Ἑσπερίδας θ᾽, ᾗς μῆλα πέρην κλυτοῦ Ὠκεανοῖο χρύσεα καλὰ μέλουσι φέροντά τε δένδρεα καρπόν.Ησίοδος - Θεογονία (211-216)
Contam-nos os mitos helénicos registados pela tradição escrita e oral ser Momo a personificação do Sarcasmo. Hesíodo diz na Teogonia tratar-se duma divindade primordial dos escritores e poetas, filha da Noite e irmã das Hespérides, as fiéis guardiãs do jardim dos pomos de ouro ou dos Imortais. Luciano lembra no Hermotimus a avaliação trocista proferida contra as criações de Atena, Poseidon e Hefesto na qualidade de jurado dum concurso de deuses. Filóstrato ridiculariza nas Epístolas as infidelidades de Zeus para com Hera, pelo que se viu exilada do Monte Olimpo.
Um dos lances mais marcantes da sua faceta etiológica situa-se entre duas querelas armadas mítico-lendárias do mundo antigo: a Guerra de Tebas e a Guerra de Troia. Sem se ter batido em nenhuma delas, criticou a primeira e causou a segunda. Aconselhou Zeus a abandonar o plano de fulminar os mortais através dum contínuo bélico artificial. Para diminuir o excesso de população, bastava criar uma mulher muito bela que levasse as nações a baterem-se pela sua posse e assim se destruírem. Helena de Argos nasceu e preparou a entrada de Menelau e Páris em cena.
Quando o mais belo soldado romano passou a desfilar nas Saturnais, com uma coroa na cabeça, uma máscara a tapar-lhe o rosto e um boneco na mão a simbolizar a loucura, a subida do Rei Momo ao trono das folias acabava de surgir. As festividades rituais dedicadas a Saturno, o deus das colheitas, resistiram aos caprichos do tempo e converteram-se aos poucos nas atuais batalhas de flor do Entrudo. Na sua aparição anual, empunha o cetro do poder real e brinda-nos com mãos-cheias de serpentinas coloridas de papel a celebrar o efémero reinado de três dias.
Quando o mais belo soldado romano passou a desfilar nas Saturnais, com uma coroa na cabeça, uma máscara a tapar-lhe o rosto e um boneco na mão a simbolizar a loucura, a subida do Rei Momo ao trono das folias acabava de surgir. As festividades rituais dedicadas a Saturno, o deus das colheitas, resistiram aos caprichos do tempo e converteram-se aos poucos nas atuais batalhas de flor do Entrudo. Na sua aparição anual, empunha o cetro do poder real e brinda-nos com mãos-cheias de serpentinas coloridas de papel a celebrar o efémero reinado de três dias.
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A realeza portuguesa foi mandada para o caixote de lixo da História na primeira década de novecentos. A coisa pública que lhe sucedeu só guardou no seu calendário de festividades toleradas quatro cabeças coroadas dum reino fingido de faz-de-conta. Tolera-as em duas únicas ocasiões e sem direito a feriado civil ou religioso. Os Reis Magos em janeiro e o Rei Momo em fevereiro/março. O ouro, incenso e mirra da tríade natalícia foi substituída pelos confetti do monarca carnavalesco. Tudo muito q.b. Noblesse oblige. E assim a lenda se fez fábula e o mito contramito.