24 de julho de 2023

Epítetos Reais & Apodos Plebeus

O REI AZARADO & O IRMÃO GOLPISTA

Cognomes, apelidos & alcunhas

Todos os reis portugueses têm um cognome (o Povoador, o Lavrador, o Magnânimo, o Usurpador) ou vários (o Conquistador ou o Fundadoro Cruel ou o Justiceiro), por vezes contraditórios (o Grande / o Opressor) e a caírem no domínio da mera alcunha popular (o Gordo). O mesmo se diga das rainhas (a Piedosa ou a Louca, a Educadora ou a Parideira) e dos respetivos cônjuges (o Capacidócio, o Sacristão ou o Edificador e o Rei-Artista), bem como de algumas consortes (a Aleivosaa Desejada, a Excelente Senhoraa Princesa Perfeitíssima). Esta proliferação de epítetos reais deve-se ao facto de carecerem de verdadeiros apelidos e não posporem ao nome próprio a estirpe dinástica a que pertenciam: Borgonha, Avis, Habsburgo e Bragança.    

Falta essa tradição aos presidentes, por possuírem prenome(s) e sobrenome(s), conquanto os apodos plebeus atribuídos a alguns deles corram à boca pequena. Quase segredados nos tempos da outra senhora e pronunciados à tripa-forra nos nossos dias. o Cabeça-de-Abóbora ou Corta-Fitas será, quiçá, o mais conhecido de todos. Depois veio o trio armado (o Caco-de-Vidro, o Chico-Rolha, o Endireita) e o trio letrado (o Bochechaso Cenoura, a Múmia), a precederem o já crismado Senhor das selfies e dos afetos. E como não ofende quem quer, só ofende quem pode, ousemos chamar-lhe também o Tio Celito, o Cata-Vento, o Papagaio, o Comentador-Mor, o Egocêntrico, o Língua-de-Trapos, o Fala-Barato. É caso para dizer que o que a uns falta a outros sobeja.

Res publica, a caricatura ao serviço da tristeza pública, 2010

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