MOZAICO DE AMARILLOSMauricio Lucioni Maristany - 2015 |
«-Sí. Cuando alcances mi edad habrás perdido casi por completo la vista. Verás el color amarillo y sombras y luces. No te preocupes. La ceguera gradual no es una cosa trágica. Es como un lento atardecer de verano.»Jorge Luis Borges, «El otro» IN El libro de arena (1975)
Os colégios privados deste país vestiram-se de amarelo neste início de primavera. Alguma razão terão tido para escolherem esta cor em particular. Desconheço-a por completo. Uma pesquisa rápida pelos dicionários de etimologias e símbolos esclareceu-me das origens e significados da palavra.
O vocábulo «amarelo» entrou no português pelo castelhano amarillo (= pálido), como diminutivo do latim amārus (= amargo). Segundo o filólogo catalão Joan Corominas, a associação de conceitos pode estar relacionada à palidez provocada pela icterícia, um distúrbio da bílis ou humor amargo.
O amarelo está ligado à luz, ao calor, à descontração, ao otimismo e à alegria. Simboliza o sol, o verão, a prosperidade, a felicidade. Dizem ser uma cor inspiradora que desperta a criatividade, propicia a reflexão e estimula o estudo. Em excesso, todavia, pode provocar distração e ansiedade.
Representa também a riqueza, o dinheiro, o ouro, de mãos dadas com o poder, a nobreza, o luxo. Estatuto mais chegado às tias e tios, meninos e meninas de papá e mamã que andam por aí de camisola amarela, sem terem vencido nenhuma etapa da volta a Portugal em bicicleta.
Cartão amarelo apresentado à tal geringonça defensora dum ensino público pintado de todas as cores do arco-íris. Amarelo de raiva de impérios caídos. Negociatas da China. Liberdade de escolher ao preço da uva mijona. Contas pagas com os frutos suculentos da árvore das patacas.
A vanglória de mandar contagiou pivots da TV, comentadores e figuras públicas com alguma visão mediática. Pintaram de amarelo-torrado o jornalismo cinzento que por aqui se faz. Esquecem-se que o astro-rei também encadeia, ofusca e cega quando fitado com arrogância e de frente.
Prof, sempre atento às questões sociais! Excelente a forma como salienta os contradições egocêntricas desta sociedade moribunda, onde a comunicação social representa bem o cancro que a rói. Infelizmente, está no grupo dos que mais ganham e mais querem sacar do Estado....
ResponderEliminar".... a cegueira gradual não é uma coisa trágica,. É como um lento entardecer de verão."
ResponderEliminarSó a introdução já me despertou para o belíssimo texto que escreve em seguida... Concordo em absoluto e, escrito desta maneira, só dá para ficar à esperta de mais... e mais...
O amarelo, uma cor que eu desconhecia ter tantos atributos associados! Dir-se-ia que tinha tudo para resultar, mas falhou (por excesso ?) - ou melhor, resultou, porque a vitória pesou para o lado da razão. Parabéns pelo magnífico texto, elogiado de forma tão brilhante por Maria Trovisqueira, a quem felicito também.
ResponderEliminarGostei imenso de ler este texto, ao mesmo tempo sério e bem-humorado. Se se pode extrair algo de positivo deste problema, que seja a inspiração para opinar com graça.
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