26 de fevereiro de 2021

Os olhares coloridos da imaginação

O SENTIDO DOS SENTIDOS: VISÃO

Dizem que o arco-íris ou arco-da-velha tem sete cores ou até mais. Para mim só têm três e nem sempre bem distintas. Parece-me distinguir o vermelho, o amarelo e o azul, que julgo ficar nos extremos do espetro solar refratado ou refletido sobre as nuvens e que os meus olhos de daltónico moderado conseguem enxergar. Não tenho como comprová-lo de ciência segura ou se estou a confundi-lo com o laranjaverdeanil-violeta, que dizem fazer-lhes companhia depois duma tempestade húmida passar e se começa a restabelecer a paz ou aliança entre o céu e a terra. Áureos eram os tempos da televisão a preto e branco a jogar com o cinzento claro e escuro, num fundo indefinido de 1001 cores projetadas no pequeno ecrã. 

Em tempos tive uma televisão modelo caixote, apesar de já ser a cores. Um dia cansou-se e deu o pio mestre. Substitui-a por uma outra já de plasma toda cheia de nove horas, mas continuei a ver as legendas desfocadas como na antiga. Depois descobri que o defeito não era do aparelho mas da vista cansada. Foi a partir daí que passei a usar óculos progressivos. O sentido dos sentidos prega-nos destas partidas, como ver pinturas impressionistas sob o efeito das anestesias gerais ou de ver imagens luminosas durante a correção clínica às cataratas. Alucinações coloridas da imaginação que depois não soube reproduzir com pincel e aguarelapor ignorância total dos cromatismos percecionados em momentos muito especiais.

5 comentários:

  1. Para quem tem a sorte de ver todas as cores do arco-íris, a reação ao teu texto é pensar que é uma pena não conseguires distinguir essa beleza cromática que a natureza nos oferece. Contudo, no contacto ao longo dos anos contigo, a mim parece-me tão rotineiro andares neste mundo com os olhos de quem sabe de cor as mais diversas formas artísticas que desde tempos antigos embelezam o mundo, que o vermelho, azul e anil ou o laranja, verde e anil-violeta te dão uma visão inteira do universo. Um dom que substitui outro?

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    1. Desconheço a forma como os outros veem as cores com que o mundo está pintado assim como sou incapaz de explicar o modo como vejo o meu. Aliás ninguém pode dizer com rigor se vê o mundo do mesmo modo que os outros. Cada um vê-o à sua maneira e com um número não quantificado de cores, tonalidades e matizes. Tudo depende, em grande parte, das condições de propagação da luz e da sua captação pelos olhos. Contrariamente ao que se pensa, eu vejo as cores todas, tenho é dificuldade em distingui-las umas das outras quando estão juntas ou tento acertar no nome com que os outros convencionaram chamar-lhes. Confuso, não é? Pois é mesmo assim! É por essa razão que costumo ficar irritado quando alguém me pergunta o nome de determinada cor, depois de lhe ter sido dito que era daltónico. O universo está pintado de modo extraordinário, independentemente das diferenciações cromáticas que lhe queiramos atribuir...

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  2. A assinalar uma semana com os óculos partidos e à espera de uns novos...

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  3. Sou míope desde os 10 anos, estabilizou aos 50 e por volta dessa idade comecei a usar lentes progressivas.
    Há 2 anos aquando de mudança de lentes, as dioptrias reduziram 0,5, passando para 4,5 cada uma.
    Apesar das lentes progressivas, continuo a tirar os óculos para ver ao perto: ler, telemóvel, cozer um botão ou fazer uma bainha.
    Em minha opinião, a falta de visão há de ser o pior handicap que pudemos ter.
    O meu bem mais precioso são os óculos.
    Trabalho com um colega daltónico, não distingue nenhuma cor, mas, conduz, faz-me muita confusão.

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    1. Até aos 40 anos nunca tive problemas de visão. Depois, pouco a pouco, a situação alterou-se. Tudo começou com um ligeiro estigmatismo que me obrigou a usar lentes progressivas. Mais tarde vieram as cataratas que me obrigaram a duas intervenções cirúrgicas que me puseram a ver melhor e até a baixar as dioptrias: 0,25 num olho e 0,75 no outro. Vejo bem ao longe, mas continuo a necessitar dos óculos para ler e escrever. O daltonismo é congénito e só me lembro dele em momentos muito particulares que já tive ocasião de relatar. O mais frequente tem a ver com a combinação de cores do vestuário. Os sinais de trânsito não me confundem, porque usam cores puras e o que me perturba são as associações do verde com o vermelho, como o castanho. Habituamo-nos a tudo ou quase a tudo. Sem livros é que não…

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