H. R. DOMINUS GARCIA REX PORTUGALLIÆ ET GALLECIÆ, FILIUS REGIS MAGNI FERDINANDI HIC INGENIO CAPTUS A FRATRE SUO IN VINCULIS. OBIIT ERA MCXXVIII XIº KAL. APRIL[Aqui repousa o rei Garcia, rei de Portugal e da Galiza, filho do grande rei Fernando. Capturado pelo seu irmão e preso, morreu em 22 de março de 1090]Inscrição da pedra tumular no Panteón de Reyes de San Isidoro de León
PRIMEIRO REI DE PORTUGAL
Ciclicamente, por esta altura, surge na Net a notícia do oitavo centenário e muitos picos da fundação de Portugal em 23 de maio de 1149, que completaria a bonita idade de 842 anos nos dias de hoje. Seguem-se os parabéns habituais dos leitores na caixa dos comentários, convencidos do nascimento efetivo do país nessa data, aquela em que o Papa Alexandre Ⅲ assinou a bula Manifestis Probatum, a promover o até então Condado Portucalense em Reino de Portugal, a declará-lo independente do Reino de Leão e a reconhecer Dom Afonso Henriques como seu legítimo soberano com o título de Rei. Do ponto de vista legal, o Vaticano mais não fez do que transferir para a órbita de São Pedro e da Santa Madre Igreja de Roma a proteção do território, que como testemunho de maior reverência e vassalagem deveria pagar anualmente dois marcos de oiro aos novos suseranos.
O filho de Dona Teresa de Leão e de Dom Henrique de Borgonha convertia-se, assim e pela Graça de Deus, no primeiro Rei dos Portugueses. Acontece que o Rei Garcia Ⅰ da Galiza se intitulara também Rei de Portugal, depois de ter derrotado o Conde Nuno Mendes de Portucale na batalha de Pedroso, travada a 18 de janeiro de 1071, 68 anos antes de Dom Afonso Henriques ter agido do mesmo modo em 25 de julho de 1139, logo após a vitória alcançada na batalha de Ourique. Por outras palavras, a elevação unilateral dum condado a reino e dum conde a rei. É verdade que o filho de Fernando Magno exerceria esse cargo efemeramente, por ter sido destituído das suas funções régias por Afonso Ⅵ de Castela e Leão, Galiza e Toledo, que, ao invés do irmão mais novo, nunca assumiu o título de Rei de Portugal, preferindo o mais prestigiante de Imperador de toda Hispânia.
As histórias da História vivem destas historietas que os cronistas gostam de explorar para depois converter nas versões registadas nas atas e manuais oficiais. Esquecem-se que o surgimento dum país não se pode restringir a um momento único e que a sua afirmação como entidade politica mais ou menos autónoma se insere num complexo processo de independência política, medido por períodos de tempo relativamente longos. No caso concreto português, remonta a 868, quando Vímara Peres assume o destino da Presúria do Porto e do Primeiro Condado de Portucale, dando assim início à Dinastia Vimarenense de condes e duques a governar a Terra Portucalense até à sua rendição pela Dinastia Jimena de Garcia Ⅰ, Rei de Portugal e Galiza, e mais tarde pela Borgonhesa dos genros borguinhões de Afonso Ⅵ, Raimundo e Henrique. História um pouco turbulenta, mas, afinal, factos são factos.
Assinatura de Dom Garcia Ⅰ de Portugal e Galiza |
Bom dia!
ResponderEliminarQue história interessante.
Gostei sobretudo da assinatura régia.
Mmeandros que a história tece e que não nos ensinam nos bancos escolares...
ResponderEliminarSempre a aprender ... gostei muito do "transferir para a órbita de São Pedro e da Santa Madre Igreja de Roma".
ResponderEliminarA história da independência do país é uma questão com muito que se lhe diga, mesmo nos nossos dias...
EliminarPreso e esquecido p irmão D Afonso VI.
ResponderEliminarE não contente com o ato, ainda despromoveu a Galiza & Portugal a condados e entregou-os às duas filhas e respetivos cônjuges. Assim se vai fazendo a história…
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