1 de dezembro de 2021

A disputa familiar das coroas ibéricas ou o dualexit dinástico à portuguesa

José da Cunha Taborda - Aclamação de Dom João Ⅳ (1823)
[Lisboa: Palácio Nacional da Ajuda]

No Primeiro de Dezembro de 1640, o risco da associação dinástica tolerada dos Avis-Beja com os Habsburgo-Áustria se converter numa anexação imperial imposta dos primeiros pelos segundos conduziu inevitavelmente ao dualexit, i.e., ao fim anunciado da Monarquia Dual, aquela que durante 60 anos unira os destinos de Portugal e Castela. A Guerra da Aclamação de 28 anos seguintes deitou por terra o projeto filipino de substituir a união pessoal das duas coroas peninsulares numa união real dirigida a partir de Madrid. A edificação duma Ibéria multinacional, à semelhança do Benelux de além-Pirenéus, tem soçobrado a todas as hipóteses entretanto levantadas em quase quatro séculos de devir histórico.

Quando as sondagens de opinião pululam e os resultados oscilam entre o real e o imaginário, o crédito que idealmente nos deveriam merecer é cada vez mais ténue. Independentemente dos dados percentuais obtidos de aceitação do pan-iberismo, o sentimento que ainda hoje se vive entre nós assenta na secular sabedoria popular quando afirma sem oscilar que De Espanha nem bom vento nem bom casamento. As notícias que de vez em quando vêm dos lados de lá da fronteira também não ajudam muito a alterar o secular preconceito contido no provérbio. O plano de Franco para invadir Portugal ou o mapa de Portugal anexado pelo Vox ao império espanhol. Faits divers sensacionalistas que o subconsciente retém.

Faz hoje três anos que celebrei em Sevilha a minha carta de alforria profissional. Não o repeti até hoje por razões alheias ao meu querer. Gosto muito da Ciudad del Nodo e da piel de toro española. Sem preconceitos. Não nego que gostaria de ver os dois países unidos e não ignoro tratar-se duma tarefa a roçar a utopia. Haveria que resolver o problema da república/monarquia que nos separa, do acordar o emprego paritário das línguas que nos identificam, optar por uma capital marítima/continental que nos represente e un montón más de quebra-cabeças que não cabe aqui elencar. Para o ano vou a Sevilha se o Covid deixar. Um quadriénio de autonomia laboral não é uma efeméride qualquer que se deixe passar facilmente em branco.

Os primos desavindos & de costas voltadas
Filipe  de Castela - Dom João 
 de Portugal

3 comentários:

  1. Querelas dinásticas que conduziram a um maior afastamento de dois países, vizinhos que se guerrearam sempre, irmãos que cresceram de costas voltadas... Conhecendo os dois povos, acho que cultivam realidades e culturas diferentes pelo que não resultaria a união... só se fosse antanho, mas D. Afonso Henriques determinou o contrário.
    Feliz comemoração da tua reforma este ano! E para o ano também, em Sevilha, a belíssima cidade-jardim!

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  2. Interessante opinião que veicula relativamente a uma hipotética união peninsular.
    Não é o único, mesmo no lado de cá.
    A união continua a fazer a força.
    Contudo, em meu juízo, é tarde de mais. Se fosse para acontecer já teria acontecido.

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  3. Perspectiva explícita, oportuna e fundamentada, leitura atraente! E esperemos que breve possa estar em Sevilha!

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