1 de abril de 2022

Abril do nascer e do renascer

AVRIL
Très riches heures du duc de Berry (séc. xv)

[Musée Condé - Château de Chantilly]

Abril, cron. O 4.º mês do nosso calendário. Do lat. Aprīle-, o 2.º mês do ant. ano roma-no, sem dúvida adj. substantivado; a origem do voc. no entanto, continua obscura. A re-lação entre o lat. Aprīle- e o v. aperīre, «abrir», não se justifica; não se esqueça que a existência de aperilis como der. do mesmo v. não se comprova, pois não passa de cria-ção de gramáticos, depois usada por outros autores, para explicar precisamente o nome do mês Aprilio...
 J. P. Machado, Dicionário onomástico etimológico da língua portuguesa 
 (Lisboa: Horizonte, 1984; Ⅰ, 34b.)

Abril não deve o nome a nenhuma divindade conhecida, imperador ou político de relevo. Tão pouco anda associado a um número de ordem especial. É o quarto dos doze meses existentes e é tudo. Tem uma origem obscura mas todos o ligamos ao ato de abrir (latapĕrīre). Não dum novo do ciclo anual, já dado pelo mais antigo antigo calendário romano a março e pelo mais recente a janeiro, mas à chegada triunfante da primavera e, com ela, da pureza e da renovação.

As hesitações etimológicas ora defendem que o mensis aprilis estaria associado à germinação das frutas e das flores, ao separar das águas e das terras, ao renascer da vida em geral; ora poderia referir-se a Aprodita etrusca ou à Afrodite helénica, a Vénus do panteão romano; ora à própria espuma do mar (gr. αφρός) da qual a deusa do amor e da beleza teria nascido. Aqui como em qualquer situação de dúvida, pode bem dizer-se que a cada cabeça sua sentença.

Se de facto o mês de abril não carrega ainda em si o sentido pleno de abertura, que passe a fazê-lo. Que abra de vez as mentes a quem teima em mantê-las fechadas para a vida e para o amor. Que o faça sob a égide de Άφροδίτη-Venus, a mediadora greco-itálica da oração, o génio protetor da vegetação e dos jardins. Que troque a guerra pela paz e promova a união na terra europeia, filha dileta dos deuses e dos homens, e nos traga a primavera cabal dos novos tempos.

Sandro Botticelli, Nascita di Venere (1485)
[Firenze, Le Gallerie degli Uffizi]

5 comentários:

  1. Bom primeiro dia de abril!
    O meu mês predileto, tão bem expresso pelas suas palavras!

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  2. Que o mês de abril se abra a uma feliz primavera e, como bem dizes, que abra a mente dos que decidem o destino do mundo à necessária humanidade!

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  3. Teresa Salvado de Sousa4 de abril de 2022 às 16:16

    Ora então Les tres riches heures du Duc de Berry - tenho por cá um livrinho - reprodução que comprei em Chantilly quando as vi e me maravilhei. E mais um dos teus interessantes, informados, bonitos textos. Vais fazendo "serviço público" ajudando - nos a pensar e a saber. E, se não se sabe a origem do seu nome, Abril é um grande mês, aquele "Abril de novos ritmos novos rumos", aquele das "portas que Abril abriu", aquele de "o dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio". E é o teu mês.

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    1. E abril é mesmo um dos meus meses preferidos, não por ser aquele em que nasci mas aquele em que renasci em 74, já lá vai quase meio século. Melhor abertura para a liberdade não se podia esperar.

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  4. Teresa Chaby Calado4 de abril de 2022 às 16:18

    Entrou abril e com ele Afrodite, a quem dizem tb ser uma homenagem. Um mês que inicia o recomeço, o nascimento e se segue a março, que interpretam como o mês que na antiguidade era considerado uma homenagem a Marte.
    Como tu desejas, e muito bem, que março seja, então, um mês de esperança de um caminho de paz entre os homem, em harmonia com a natureza.

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