Moses Harris, The Natural System of Colours (1776) |
PO LI CRO MI AS
Os cavaleiros-guerreiros, cortesãos e clérigos, damas e donzelas cobriam-se da cabeça aos pés de brocados, cambraias e damascos de cores garridas e variadas, protegiam-se pela frente e por trás com trajes de veludo, peliças de lontra, panos de Arrás e outros que tal. Fugiam a sete pés dos gelos invernais e das canículas estivais. Premia deixar que a pureza nívea da pele deixasse esguardar o azul celeste do sangue imaculado a correr-lhes nas veias fidalgas dos quatro costados. Noblesse oblige.
Para se livrarem da triste sina dos laboratores da plebe de lidarem de sol a sol, os filhos dos bellatores em conluio com os oratores deram em casar-se entre si, para assim reter nas suas mãos as rédeas do poder absoluto dos seus reinos e senhorios. Entre nós, Borgonhas e Avises, Áustrias e Braganças, lograram unir ao longo dos tempos e à espera de muitos mais a linhagem de tios e tias, primos e primas, cunhados e cunhadas. Tudo ao molho e fé em deus. Tudo farinha do mesmo saco. In sæcula a sæculorum.
As taras e manias endogâmicas tardaram mas arrecadaram. Os royalties atuais resistentes à voragem dos tempos, resolveram pular a cerca, vasculhar os/as reais consortes entre a plebe e promover assim uma policromia completa no meio aristocrata subsistente. De azuis, os sangues passaram a avermelhados e arroxeados. Os círculos cromáticos a funcionarem em pleno e no seu melhor. Há exemplos para todos os gostos e desgostos. Salve-se quem puder. É um fartar vilanagem. Oh my goodness!
Na véspera do feriado que celebra a aclamação do duque de Bragança como rei de Portugal, os saudosistas das honras e mordomias perdidas já se preparam para as habituais cerimónias de beija-mão simbólico na praça dos Restauradores. À distância de mais duma centúria da queda das testas coradas entre nós, urge arrear duma vez por todas a bandeira azul-branca da Monarquia caída e hastear para todo o sempre a verde-rubra da República implantada. Assim seja, viva, viva e viva!